27.10.08

Coruj(o)ão

A noite parece longa
A TV não me adormece
De um lado o olhar torpe
A porta aperta uma ponta de luz
É a rua querendo entrar
Um louco grita
Descongela o silêncio
e é só a ponta do iceberg
A madrugada é madrasta
dos que esperam pelo sol
Na falta de uma palta
a garganta pra te escrever

A noite parece longe
Divisor de mágoas
me deixou rouco
é algo em mim que não cala
parece muda
pra entender o silêncio dos loucos...
parece fuga
pra entender o silêncio dos loucos...
me deixou rugas
quase entendi o silêncio dos loucos...


João Simas
Com Deus eu me deito
Com Deus me levanto
Quando faz dia amanheço
Se é tarde entardeço
E é de noite que se rezam os santos
nos pratos de espelho altar
Alto lá!

A hora do bem
A hora do mal
A hora dos limpos e dos ímpios
A hora é um pedaço do tempo pendurado nos ponteiros

Com Deus eu me levanto
Com Deus eu me deito
Se não acordo vivo
é que estou ao sabor
do que outrora ardia no peito
que assim seja o amém de todos os cantos
com Deus eu me deito
Sem Deus eu me espanto...

João Simas

23.10.08

Perdeu a graça!
O palhaço se espalha em espantalho do sorriso de palha
O olhar ermo
Um terno que esfarrapa
Um termo que alarma
A lama, a lâmina, o olho que ama
A fome que teima por fama de picadeiro
A piada perdida
A pose crucifixa
Os pombos
Os corvos
A plantação
Mas lá no fundo
Crispando a terra
Uma semente guardando o aplauso da multidão
E o palhaço espantalho agora enraiza a pulsação do seu coração de palha
Folha murcha
Fim da última estação...
João Simas

8.10.08

o que é o nome senão nada
se cunhado pelo grafite
basta a borracha e jaz, se apaga
se tingido pela esferográfica é só borrar
e se resta o papel pouco sobra, se rasga
se é palavra dita a garganta seca
e a palavra muta
se é memória esquece
enfim, o que o homem leva além do nome é o que ele ama
amando ele se deixa nas folhas brancas de um dia de sol